quarta-feira, 15 de junho de 2022

Solitude

A solitude é importante, mas perigosa: ela pode se tornar uma solidão prematura.

Quando pensa-se na solitude, ela anda de mãos dadas com a solidão, como irmãos de sangue. Um tem amigos, mas é independente e indiferente a respeito, prefere estar só e normalmente não tem problemas sociais.  O outro sente necessidade de amizades, mas tem dificuldade com comunicação externa por ser introvertido, além de ter problemas com dogmas sociais, tanto por fatores pessoais quanto externos. Vê-se claramente a diferença dos dois irmãos. Mas por que são irmãos próximos?

Os dois conceitos entendem que a necessidade de comunicação externa, o companheirismo, a inter relação entre comunidades, lealdade, casamento e amizade são, de fato, imprevisíveis. Não há real necessidade de passarmos tanto tempo com outros, afinal, temos nossa própria vida para tomar conta. Apesar do ser humano precisar da comunicação com o outro, ele entende que isso pode acabar por espontânea vontade de ambos, ou de apenas um. E muitas vezes está tudo bem, dependendo da motivação. Apesar de estar "tudo bem" muitas vezes, isso não pode ser previsto de forma alguma, e então, vem o medo de se envolver emocionalmente. A finalização de um ciclo, pode doer para ambos ou, pior, para apenas um lado. Então o que nos garante que de fato, aquela relação valeu a pena? O que nos garante que é compensatório se envolver com as pessoas? Qual a garantia do casamento, da amizade íntima, da relação com colegas de trabalho?

Voltando a solitude, ela existe como uma necessidade de auto valor e consciência que cada um tem uma vida amplamente única. Tudo ocorre ao nosso redor, e cada um vive em um espectro de realidade diferente, com pensamentos diferentes e energias diferentes. Por isso, cada um deve se amar unicamente e valorizar sua própria companhia. Já que uma pessoa não nos controla, diretamente falando, temos poder sobre nossos pensamentos e vontades pessoais. Valorizar o dia a dia, a vida, o emprego, a saúde, as inspirações, os lazeres é essencial para a felicidade. Mas, até que ponto?

A solitude, também, vicia. Ela te torna cada vez mais distante das pessoas conforme a pessoa vai vendo que é mais divertido e compensatório focar em si. Ficar apenas consigo mesmo fazendo qualquer coisa, é mais compensatório do que ter comunicação externa. As vezes, envolve também o medo de se envolver com as pessoas, pois sabemos bem como elas são. Imprevisíveis. A probabilidade de se envolver e se machucar, é gigante. A independência e a lealdade ficam em jogo, quando se trata de casamento. O discernimento fica em jogo, quando se trata de filhos. O egoísmo e a ganância ficam em jogo, com colegas de trabalho. Qualidades e defeitos aparecem explicitamente, quando nos envolvemos com pessoas. E não depende apenas de nós, mas da outra pessoa lutar contra os defeitos, o que de fato é difícil. A partir daí enxergamos cada vez mais a solitude como uma maneira de fuga social.

E aonde que entra a solidão? Ela está ali como um conceito próprio, ou pode se tornar uma evolução da solitude? A evolução é possível a partir do momento que definitivamente, deixamos de fazer amizades, deixamos de namorar e nos afastamos da família, tanto por fatores pessoais quanto externos. Os externos são bastante comuns, como pessoas controladoras e amigos tóxicos. Sim, mais um motivo para a evolução da solitude. É um conceito bastante similar e que, anda de mãos dadas com seu irmãozinho.

Mas pensando sobre motivações, a culpa nunca é da pessoa que adota tal conceito. A culpa é do medo que é imposto. O medo nunca vem de nós, apenas absorvemos externamente. Se uma criança evitar fazer amizades, não é por ser naturalmente introspectiva, mas por que as pessoas não a entendem ou passam uma sensação negativa. Muitas vezes, como foi comigo, uma experiência de violência física e moral no jardim de infância, por exemplo. Existe maldade, e por isso muitas pessoas adotam a solitude... ou solidão.

As pessoas são imprevisíveis, apesar de sabermos que nem todas são más. Mas como vamos saber?


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